Regressei ontem de Paris do Enterprise 2.0 Summit. Foram dois dias durante os quais ouvi várias experiências sobre a criação de organizações mais sociais, organizações que querem melhorar o seu desempenho através de uma melhor colaboração e interação entre colaboradores.
Ao mesmo tempo que assistia ao evento, participava no debate que, no Twitter, se desenrolava em torno do que estava a ser dito no palco.
Um dos temas que gerou bastantes comentários foi a relação das idades dos colaboradores com a sua capacidade de se adaptar às ferramentas sociais nas organizações. Será que os colaboradores mais novos têm mais facilidade em usar estas ferramentas no contexto organizacional?
Algumas das organizações presentes acreditam que sim (Deutsche Telekom e Atos, por exemplo), e têm mesmo programas de reverse-mentoring: colaboradores mais novos ajudam os mais velhos para que estes últimos se sintam mais seguros a usar as ferramentas. O debate surgiu via Twitter veio questionar se a idade é importante.
Para mim, a capacidade de usar as ferramentas sociais tem duas componentes: a capacidade de “operar” a ferramenta, e a capacidade de a usar de forma útil.
Usando uma analogia musical: uma pessoa que sabe tocar um instrumento pode não saber como tocar uma música nesse instrumento. Do mesmo modo, uma pessoa que saiba uma música pode não saber tocar um instrumento.
Assumimos que os mais jovens estão mais familiarizados com as ferramentas sociais. Na realidade, as estatísticas revelam que não há assim tanta diferença (veja-se este estudo da Pew Internet ou este da Pingdom). De qualquer forma, e mesmo que houvesse um maior à-vontade por parte dos mais jovens, estes tendem a usar as ferramentas para fins pessoais e, sem grande experiência profissional…
- não têm grande consciência do impacto que pode ter o que colocam nas redes
- não as usam para colaborar, para construir em conjunto.
Aliás:
- vêem muitas vezes formatos pelo sistema de ensino para não partilhar e não usar informação de outros (considerado copianço ou plágio);
- sentem que têm de ser afirmar e, por isso, assumem uma postura individualista; ou
- têm receio de se expor e falhar e preferem não ter voz nas ferramentas internas.
Os mais jovens podem saber tocar o instrumento ou ter mais facilidade em aprender a tocar o instrumento. Mas a verdade é que os mais velhos estão mais habituados ao mundo do trabalho e estão muito mais bem preparados para pensar como o instrumento (as ferramentas sociais) se podem encaixar e melhorar esse mundo.
Por tudo isto, acredito que o mentoring ou os champions, continuam a ser uma boa estratégia. Independentemente da sua idade, os champions são pessoas que sabem usar a ferramenta e que percebem e acreditam nas vantagens da sua utilização. Nos champions encontramos pessoas que sabem tocar o instrumento e com ele tocar bom música. Nos champions encontramos pessoas empenhadas em que outros sejam capazes de fazer o mesmo.
E com um número crescente de pessoas capazes de tocar música com o instrumento, seremos capazes de criar melhores concertos nas nossas organizações.
Nota: A foto usada neste artigo é de LifeSupercharger e foi encontrada no Flickr nesta data.
Na verdade, é cientificamente provado que os mais jovens, por estarem com um longo caminho à frente na direção de construção das sinapses neurais, tem mais facilidade de aprendizado, além de visão das situações novas. Se tornando essenciais no processo de modernização de qualquer sistema. O que falta à juventude é apenas a experiência, fato conseguido através da cooperação com os mais velhos. Elitizar aqueles com mais idade como “mais aptos”, ou “melhores”, é uma afirmativa tão perigosa quanto deixar totalmente nas mãos da juventude o uso das ferramentas sociais. O que fazer com o grande músico de Jazz acústico, quando a música ganha a riqueza e complexidade da guitarra e do baixo elétrico? Juntar quem tem habilidade com quem tem facilidade em aprender novos instrumentos, ora! O mundo vive um tumultuoso processo de transformação social imposto pela comunicação. Como pode uma entidade operante das transformações sociais sobreviver ao mundo se usando de um caráter conservador? Como o grande Pierre Lévy diz, é necessário antes de mais nada entender estes processos. Em países como França e Japão a juventude tem destaque nas transformações sociais e desenvolvimento no país. Se o mesmo não ocorre no Brasil, o país devia cuidar melhor das suas políticas de cultura e educação. Enquanto a mídia estiver empurrando “cultura” para uma juventude já despreparada, que de quebra dá de cara com a inclusão digital sem um senso crítico pra se “defender”, vai ficar por isso. Como você alimenta um gato com papel molhado e quer que ele pule e faça acrobacias? Deste jeito nem gente nova, nem gente velha, ambos estarão sentados assistindo o país do futuro. E a copa vem aí…
Muito obrigada pelo seu comentário, Vanilson.
Concordo inteiramente consigo. Parece-me errado assumir que os mais novos estão mais aptos para as novas ferramentas. Da mesma forma que me pareceria errado assumir que os são os mais velhos. Generalizar é perigoso!
Aquilo que penso, no entanto, é que é mais fácil ensinar uma pessoa mais velha a trabalhar com as ferramentas, do que passar experiência de vida, ou de trabalho neste caso, a pessoas mais jovens: uma dá para ensinar, a outra você tem de aprender (e leva tempo!).
Se aprende todos os dias